30.4.06

Millôr Fernandes

Dez tópicos judiciosos, agora que se fala tanto em justiça e viramos todos justiceiros

I)

Lei: livro de regras de sentido impreciso, interpretáveis à la carte, tentando estabelecer definições para o Bem e o Mal, o Certo e o Errado, coisas que filósofos da mais alta astúcia tentaram inutilmente através dos tempos.

II)

De acordo com a Letra da Lei: a expressão vem da reverência à Lei Escrita, quando tudo era feito em belos textos cheios de iluminuras. E naturalmente interpretado com retórica barroca. Ou rococó. Pode-se julgar pela letra da lei uma impropriedade ou pelo espírito da lei fora do alcance.

III)

Como é do conhecimento de V.Ex.: introdução para que o Meritíssimo se lembre de uma coisa de que nunca ouviu falar, mas cujo efeito já está corporativamente estabelecido.

IV)

Indenização: os 10% que a vítima recebe se vence a causa, depois que a Corte, os Advogados e a Processualística dividem seu Patrimônio.

V)

Multa: participação do Estado no dinheiro supostamente mal ganho por erro, falta ou crime do condenado.

VI)

Juramento: uma palavra só possibilitando a síntese perjúrio - blasfêmia.

VII)

Perjúrio: coisa que o advogado também comete o tempo todo, mas em linguagem jurídica. Se apanhado pode negar tudo em linguagem igualmente jurídica. A denominação geral é dialética.

VIII)

Solicitador: leigo (profissional não “formado”) capaz de colocar em termos claros a acusação ou a defesa num processo, para que os advogados as tornem depois absolutamente ilegíveis salpicando alguns data vênia e uma ou outra avença.

IX)

Supremo: como todos sabem, o melhor ainda é o de frango.

X)

Juiz: Voltaire disse, “Quando o primeiro espertalhão encontrou o primeiro imbecil estava criado o primeiro Deus.” Em que momento e condições se criou esse Deus laico chamado Juiz do Supremo?

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