7.2.05

O JUMENTO NOSSO IRMÃO (Falcão)
“Cada um é cada qual.” (Dona Jarina)


Pelo jornal o dia me chega com o seguinte: Jumentos sacrificados no Ceará “...jumentos pegos nas estradas são mortos a pauladas e jogados em uma vala, e muitos são enterrados ainda com vida. A estimativa é que 4.000 animais tenham sido mortos dessa maneira, desde janeiro de 2002. As últimas denúncias foram recebidas este mês pela União Internacional Protetora dos Animais (Uipa). Segundo a qual, a última matança (150 jumentos), foi em nove de maio, e para morrer cada animal recebe uma paulada na cabeça. Em seguida, é jogado em uma vala cavada por trator". Minha sogra, pra não perder o costume, ainda falou: “Ainda bem que você não estava lá”...

Todo mundo, e a mulher de ‘seu’ Raimundo, sabe que os tempos atuais são apocalípticos. Mas, será que o jumento nosso irmão está marcado no rol dos pecadores sujeitos a tal castigo? O certo é que a matança já era comum na década de setenta, quando o animal foi quase extinto pelos (segundo dizem), grandes frigoríficos que utilizavam sua carne para fazer salsicha, enlatados e congêneres. Ainda segundo a língua do povo, o bicho também era usado (o sangue) para fazer vacina.

Naquela época, o Padre Antônio Vieira, escritor cearense falecido recentemente, lançou as bases de um movimento em defesa do jegue. Primeiro com o livro O JUMENTO NOSSO IRMÃO, que foi até traduzido para o inglês (The donkey, our brother) e publicado em Nova Iorque e, depois, com a criação do CLUBE MUNDIAL DO JUMENTO, reunindo jornalistas, políticos, intelectuais e artistas. Uns menos e outros mais aparentados com o quadrúpede.
Dizem que Brigite Bardot,- que quando ficou velha e feia que nem um bicho, adquiriu um repentino amor pelos animais, teria se apaixonado perdidamente pelo jumento quando viu a catilogência fálica da criatura.

Para quem não sabe, no Brasil vivem cinco “marcas” de jumento: O cabano(com as orelhas quebradas), o baé ( baixinho), o pega (o maior) , o canindé (preto com a barriga branca), e o gabinete (que tem a maior pujança genitálica, chegando o seu “bráulio” (que arrasta no chão) a servir como tração extra quando o animal por acaso atola). Foi por ele que Brigite Bardot se encantou.

Por causa dessa campanha do Padre Vieira e também pelo desuso na agricultura no transporte e na alimentação, o quadro se reverteu (como diria o grande filósofo paraibano Getúlio França, guitarrista da renomada banda Diarréia): agora está sobrando jumento e o preço de um deles, segundo o IGP, chegou ao ridículo valor de R$ 5,00. Ninguém os quer nem de graça. Por isso eles vagam aos lotes pelas estradas, onde são pegos e depois mortos pelos órgãos (in) competentes.

Uma pena... O jegue que esteve presente, por três vezes, na vida de Jesus: no nascimento, na fuga para o Egito, e na entrada triunfal em Jerusalém, no domingo de Ramos, é um bicho de 1001 utilidades e poderia ser utilizado, inclusive nas grandes cidades, em atividades variadas:

• No trânsito – a prefeitura doaria um jegue para cada cidadão (e confiscaria seu carro) contribuindo para o desafogo do tráfego e a diminuição da poluição, já que o jumento é menor que um automóvel e não usa combustível fóssil,

• Na segurança – um jumento bem treinado é capaz de dar cabo de dois ou três bandidos,

• Como relógio/despertador – o relincho de um jegue tanto é alto (em matéria de volume), como é pontual, ele sempre relincha em horários cheios, ou seja: de hora em hora ou de meia em meia hora ou, ainda, de quinze em quinze minutos. Melhor que o relógio do homem do Baú...

No mais, é como disse Luiz Gonzaga, o rei do baião: “O bicho é servidorzinho!”

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